Pesquisadores da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins) trabalham para conseguir algo inédito no Brasil: a germinação da semente de baunilha. O foco da pesquisa é a conservação das plantas do Cerrado, uma vez que há grande demanda por produtos de baunilha de origem natural nos mercados nacional e internacional e as espécies nativas do Brasil podem contribuir devido ao potencial aromático distinto e pela variabilidade encontrada em diversas condições ambientais no país, favorecendo o incremento da oferta no mercado, possibilitando a ampliação de fontes de renda de comunidades locais, constituindo-se um potencial alternativo para a agricultura familiar.
Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Tocantins (Fapt), a pesquisa conta com a parceria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO), do Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins) e da Secretaria da Agricultura e Pecuária do Tocantins (Seagro). O trabalhoestá sendo conduzidono Laboratório de Biotecnologia e Cultura de Tecidos Vegetais (Biotecnotins) e no Horto, ambos instalados no Complexo de Ciência Agrárias (CCA) da Unitins, sob a coordenação do pesquisador Lucas Koshy Naoe, professor doutor em Genética e Melhoramento que integra o colegiado do curso de Engenharia Agronômica/Câmpus Palmas.
Lucas Koshy Naoe explica que a baunilha geralmente comercializada nas feiras, de modo geral no Brasil, é a mexicana, e tem havido um incentivo para as novas opções de cultura, que sejam nativas, adaptadas ao microclima do Tocantins, e a baunilha foi muito citada em vários seminários e congressos aqui no Estado. A partir daí um grupo de pesquisadores começou os primeiros trabalhos, e a Unitins faz parte desse grupo. “A baunilha nativa é difícil de ser encontrada, trepadeira por natureza necessita de árvores adultas para sobreviver, ou seja, precisa viver em ecossistema já estabelecido e longe de incêndios periódicos, mas conseguimos identificar exemplares na região do semiárido do Jalapão e nas várzeas tocantinense, bem como nas áreas centrais do Cerrado. Fizemos um resgate de algumas plantas que estão servindo de matrizes para os trabalhos, para vermos quais dessas matrizes são mais produtivas, mais rústicas”.
“O que estamos tentando fazer é a germinação para conseguir novas variantes. Essa é a dificuldade. Um outro setor já faz a multiplicação da planta adulta, micropropagação, que também está gerando protocolos. Então, é um grupo de pesquisadores do estado trabalhando para que o cultivo se torne economicamente viável. É uma opção de renda principalmente para algumas comunidades rurais. Entretanto, ainda não se consolidou, apesar do alto valor que a baunilha tem no mercado”, destaca o pesquisador Lucas Koshy.
Baunilha
Nativa das florestas do México e América Central, ofruto da baunilha já era apreciado por maias e astecasmuito antes de se espalhar pelo mundoa partir da invasão espanhola no século XVI. Abaunilha é uma planta trepadeira da família das orquídeas (Orchidaceae), pertencente ao gênero Vanilla, é amplamente utilizada na gastronomia, perfumaria e indústria farmacêutica, sendo a segunda especiaria mais cara do mundo, perdendo apenas para o açafrão. Atualmente são produzidos aromatizantes sintéticos de baunilha. Estima-se que apenas 1% da baunilha consumida no mundo é produzida de forma natural.
Cultivo
São conhecidas mais de 100 espécies do gênero Vanilla e cerca de 40 espécies possuem frutos aromáticos. Mais diversificado na América tropical, o gênero ocorre também na África, nas ilhas do Oceano Índico, Sudeste Asiático, Nova Guiné e ilhas do Pacífico, mas estão ausentes na Austrália. O Brasil comporta a maior diversidade, cerca de 40 espécies, sendo 15 com frutos aromáticos e, dessas espécies, muitas ainda são desconhecidas no resto do mundo. Multiplicada preferencialmente por meio de estacas, o cultivo é exigente em vários aspectos. É uma espécie que vive bem em clima tropical quente e úmido, mas necessita de sombra, não podendo, portanto, ser cultivada em áreas abertas.
A baunilha é a única orquídea com frutos aromáticos, possuindo mais de 200 substâncias ativas, das quais se destaca a vanilina, um aldeído que confere o aroma característico, podendo variar em concentração de espécie para espécie e de acordo com o local de cultivo. Dos frutos, que são cápsulas alongadas, também chamadas de vagens ou favas, extrai-se a essência. Mas, para obtê-la, os frutos sofrem um processo delicado de cura, que pode durar até dois meses, contribuindo para a elevação do seu preço. Não só é demorado processo para a obtenção da essência, como também há dificuldade para a formação dos frutos. Como os polinizadores naturais não são encontrados em muitas áreas em que a baunilha é cultivada, a fecundação deve ser feita manualmente.
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