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Capacitação de generalistas pode agilizar jornada do paciente, diz SBR

Demora em conseguir diagnóstico causa sofrimento

25/09/2025 19h35
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
© Tomaz Silva/Agência Brasil
© Tomaz Silva/Agência Brasil

Desde criança, quando vivia na cidade de Ipupiara, no interior baiano, a artesã Regiane Araújo Pacheco, de 40 anos, sofria com muitas dores nos joelhos e no quadril. Isso a levou diversas vezes a procurar um clínico geral em sua cidade, que sempre receitava uma injeção para as dores que sentia. O diagnóstico, no entanto, só ocorreu quando ela já tinha 15 anos e decidiu ir a São Paulo buscar um médico especialista.

“Antes dos meus 15 anos, veio uma crise muito forte. Tive inchado no joelho, dormi e acordei com o quadril doendo tanto que me impossibilitava de andar. Nisso, eu fui para São Paulo, passei por um ortopedista e vários médicos, e nada de um diagnóstico firmado”, contou a Agência Brasil , ao participar do 10º Encontro Nacional de Pacientes, realizado em Salvador. Pouco tempo depois, ela foi finalmente indicada para um reumatologista e então obteve um diagnóstico de artrite reumatoide infantil.

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Apesar desse diagnóstico, ela continuou sofrendo com muitas dores. Em 2008, buscou um especialista na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia. Entre diversas idas e vindas de sua cidade até Vitória da Conquista, finalmente ela conseguiu um diagnóstico para lúpus, doença para a qual ela faz tratamento até hoje.

Toda essa busca da Regiane por médicos para o diagnóstico e tratamento de sua doença é chamada de jornada do paciente. E, no caso dela, essa jornada foi extremamente longa: Regiane precisou enfrentar não só grandes distâncias para conseguir encontrar um médico especialista, como também levou anos para conseguir um diagnóstico e dar início ao tratamento.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), José Eduardo Martinez, um dos maiores desafios na área de saúde é exatamente conseguir diminuir a jornada dos pacientes, inclusive das pessoas que apresentam doenças reumáticas .

“Antes [de chegar] no especialista, há todo um trajeto que o paciente enfrenta. Por quantos médicos não especialistas ele [paciente] passou e que não suspeitaram ou que tiveram dificuldade para comprovar o diagnóstico [da doença], até que o paciente pudesse chegar na nossa especialidade? Então, quando a gente fala do programa Agora tem Especialistas, eu acho muito importante aumentar o número de especialistas [no país], mas eu acho muito mais importante que essa jornada do paciente seja encurtada”, defendeu ele.

Agora Tem Especialistas

O Programa Agora tem Especialistas é uma iniciativa do Ministério da Saúde e do governo federal que tem como principal objetivo reduzir o tempo de espera por atendimentos no Sistema Único de Saúde. Criada pelo governo federal, em parceria com estados e municípios, a iniciativa permite que as unidades de saúde ofereçam atendimento especializado a pacientes do SUS, colaborando para reduzir o tempo de espera da população por cirurgias, exames e consultas na saúde pública.

De acordo com o ministério, as ações desse programa visam a ampliar a oferta de serviços especializados de média e alta complexidade em seis áreas prioritárias: oncologia, ortopedia, ginecologia, cardiologia, oftalmologia e otorrinolaringologia.

Na quarta-feira (24), a medida provisória (MP) que criou o programa Agora tem Especialistas foi aprovada pelo Congresso Nacional . No plenário da Câmara dos Deputados, a MP teve 403 votos a favor, e foi aprovada por unanimidade no Senado. O texto agora segue para sanção presidencial.

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a aprovação dessa medida provisória pelo Congresso “foi histórica” e vai dar “solidez” ao programa. “O Agora tem Especialistas busca enfrentar um problema que é o que a população mais sente hoje: o tempo de espera para atendimento especializado no Sistema Único de Saúde. As pessoas estão há meses ou anos esperando [atendimento especializado]”, disse ele.

“Esse programa traz inovações na legislação e permite que o governo federal possa estar mais próximo dos estados e municípios na oferta do tratamento especializado no país”, explicou o ministro a jornalistas na tarde desta quinta-feira (25), em São Paulo. “Uma outra coisa que o programa faz é levar cada vez mais médicos e especialistas e profissionais de saúde para regiões onde não temos médicos especialistas no nosso país. Queremos desconcentrar isso”, resumiu Padilha.

Melhorar atenção básica

Para o presidente da SBR, o programa do governo federal tem muitas qualidades. No entanto, ele defende que é preciso investir ainda mais na atenção básica, melhorando o atendimento e a formação dos profissionais que vão fazer o primeiro atendimento ao paciente.

“Se eu tivesse o cara da ponta, o da unidade de base da saúde, que desse uma resolutividade, o atendimento secundário ou terciário seria aliviado e se chegaria muito mais rapidamente naqueles casos que realmente precisam. E eu acho que esse é um grande desafio que a gente tem”, disse Martinez em uma entrevista coletiva concedida durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, que aconteceu entre os dias 17 e 20 de setembro em Salvador, na Bahia.

O presidente da SBR cita um exemplo: “Eu atuo no centro de uma região administrativa de Sorocaba. O meu paciente vem de Itararé (cidade paulista distante cerca de 243 km de Sorocaba). Algumas vezes, ele vem de transporte público. Ele sai às 02h da manhã e vem em um ônibus, com vários outros pacientes, e ele vai ser atendido às 13h. Ele é atendido e volta para Itararé. Aí, preciso marcar um retorno, e ele voltará daqui a seis meses ou um ano. Mas a solução seria que o médico que está lá [em Itararé] seguisse as diretrizes do SUS, ou seja, eu faço a contrarreferência e este médico segue [o tratamento deste paciente por lá]. O ideal seria usar a melhor a tecnologia [o que está previsto no atual programa do governo federal], mas seria necessário qualificar melhor o médico generalista na doença reumatológica. Assim, a jornada de um paciente com artrite reumatoide e lúpus para chegar no especialista ia ser muito mais rápida”, explicou.

Quem também concorda com Martinez é o médico reumatologista Valderilio Azevedo, membro da comissão científica de Biotecnologia da SBR. Para ele, se um médico generalista tivesse uma melhor formação, a jornada do paciente poderia ser encurtada.

“Tem muitas dessas doenças que você pode identificar precocemente e tratar ali [na atenção básica], sem que o paciente precise ir para o especialista”, disse ele. “Nem todo mundo precisa ir para um especialista. Se tivermos um generalista bem formado, identificando e tratando adequadamente e também encaminhando [o paciente] com qualidade, a gente diminuiria um pouco da jornada do paciente”, completou.

A médica Licia Maria Henrique da Mota, diretora científica da SBR, acredita que o problema maior está no referenciamento, encaminhamento de pacientes para um serviço mais especializado, e no contrarreferenciamento, retorno ao serviço menos especializado.

"Se eu tenho aquele paciente com artrite, e esse paciente está controlado e bem, precisando ser visto somente a cada três meses para checar uma série de exames complementares e a segurança do tratamento, ele não precisaria necessariamente voltar na minha unidade terciária”, ressaltou.

Procurado pela Agência Brasil , o Ministério da Saúde informou que tem “ampliado de forma consistente os investimentos na Atenção Primária à Saúde (APS), considerada a principal porta de entrada do SUS”.

Por meio de nota, o ministério informou que “o orçamento da APS passou de R$ 35,3 bilhões, em 2022, para R$ 54,1 bilhões, em 2024, o que representa um aumento de mais de 50% nos recursos destinados ao fortalecimento desse nível de atenção. Atualmente, a cobertura da APS é estimada em 70% da população, com equipes atuando em Unidades Básicas de Saúde, Saúde da Família Ribeirinhas, Consultório na Rua e Atenção Primária Prisional”.

Ainda de acordo com o ministério, a Atenção Primária à Saúde não só trata de cuidado prestado por médicos de família e comunidade, como também “integra protocolos de qualificação profissional e ações voltadas ao acompanhamento de condições crônicas, contribuindo para reduzir o tempo de espera e encurtar a jornada do paciente até a Atenção Especializada à Saúde”.

* A repórter viajou a convite da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)

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